PSLS – PORTUGUÊS COMO SEGUNDA LÍNGUA PARA SURDOS
Decreto 5626, de dezembro de 2005 destaca: o reconhecimento do direito dos surdos a uma educação bilíngüe, na qual a Língua de Sinais é a primeira Língua, e a Língua Portuguesa, preferencialmente na modalidade escrita, é a segunda.
A modalidade oral da Língua Portuguesa é uma possibilidade, mas deve ser trabalhada fora do espaço escolar.
A Língua de Sinais preenche as mesmas funções que a Língua Portuguesa falada desempenha para os ouvintes e deve ser adquirida preferencialmente, na interação com adultos surdos, que ao usar ou interpretar os movimentos e enunciados observamos o funcionamento lingüístico-discursivo dessa língua.
Ela vai ter papel fundamental no aprendizado da Língua Portuguesa, uma vez que possibilitará, entre outras coisas, conhecimento de mundo e de língua com base nos quais os alunos surdos poderão atribuir sentido ao que lêem e escrevem.
Visando o aprendizado da Língua Portuguesa escrita, os alunos surdos devem ser apresentados ao maior número possível de textos, por meio de narrações repetidas e traduções.
Além de traduzir os textos para a língua de sinais, o professor deverá explicar o seu conteúdo e características das duas línguas por meio da comparação.
O aluno surdo chega na escola sem língua, mas com uma linguagem fragmentada. Não existe um pacote que se chama surdo, cada aluno é um aluno.
A perda auditiva é um norteador para ver o que pode e deve ser aproveitado e como trabalhar com esse aluno.
1. PRÁTICAS ENSINO DE LEITURA PARA SURDOS
A leitura é um processo de interpretação que um sujeito faz do seu universo sócio-histórico-cultural.
O ato de ler é uma tarefa imprescindível pois pressupõe: A aquisição/aprendizagem da escrita, sobretudo quando se trata da elaboração de textos.
Com o aluno surdo é de fundamental importância iniciar a leitura através: Concreto; Gravuras/ desenho; filmes; frases; texto escrito.
O professor deve considerar, sempre que possível: a importância da língua de sinais como um instrumento no ensino do português.
É por meio da Libras que o surdo faz a leitura do mundo para depois se passar à leitura da palavra em língua portuguesa.
A língua de sinais deverá ser sempre contemplada como língua por excelência de instrução em qualquer disciplina, especialmente na de língua portuguesa o que coloca o processo ensino/aprendizagem numa perspectiva bilíngüe.
Requisitos para que se possa atribuir sentido à leitura: preocupar-se com o sentido do texto e não com palavras isoladas ; ter conhecimento de mundo e de língua que vão responder pelo conteúdo e pela forma, respectivamente, ler diferentes gêneros e tipos de textos.
2. ENSINO DO PORTUGUÊS ESCRITO PARA SURDOS
O texto se constitui de uma manifestação lingüística, pela atuação conjunta de uma complexa rede de fatores de ordem: situacional, cognitiva, sociocultural e interacional são capazes de construir, para ela, determinado sentido .
O texto é processo, enquanto é concebido pelo autor e produto, no momento de finalização por este, passando a ser processo novamente quando exposto às possíveis leituras e interpretações.
É um instrumento fundamental nas e das práticas sociais. O texto escrito é ferramenta básica de comunicação entre surdos e ouvintes.
É importante que o professor de surdos inclua os mais diferentes textos como recursos didáticos, tanto para a atividade de leitura como para a de produção.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), recomendam textos para: o desenvolvimento do raciocínio, da argumentação e para experiência lúdica textual.
Texto e contexto, sendo o texto uma prática social, obviamente, há de se considerar as suas condições de produção. O ambiente sócio-cultural, o momento histórico, os interlocutores.
Condições dessa forma para: por que este texto foi produzido? Para que ele serve? Para quem é dirigido? Qual a sua importância social?
Isso nos leva a compreender por que razão, texto e contexto se encontram numa relação de sintonia.
ESTRATÉGIAS DE PROCESSAMENTO TEXTUAL
O processo de construção de um texto, utilizando as estratégias de natureza:
Cognitiva: consistem em estratégias de uso do conhecimento; opiniões e atitudes que possibilitem a construção de sentidos textuais.
Textual: Referem à organização através: informação; de formulação; de referenciação; explícito e implícito.
Sociointeracionais; as atitudes dos interlocutores e estratégias de preservação da auto-imagem, de negociação, de esclarecimentos.
Há diferenças estruturais entre línguas de sinais e línguas orais, por isso uma das dificuldades que o surdo tem apresentado na sua produção textual em português é exatamente a de fazer as ligações entre: palavras, segmentos, períodos, orações, parágrafos.
A coerência é, na verdade, o próprio texto, pois um texto sem coerência seria o não-texto e este não existe. Portanto, a de organizar seqüencialmente o pensamento em cadeias coesivas na língua portuguesa.
Essa idéia tem levado muitos a acreditarem que textos produzidos por uma pessoa surda não têm coerência.
Embora coesão e coerência apresentem vínculos entre si, são fenômenos com aspectos distintos:
Coesão: diz respeito prioritariamente à forma;
Coerência: ao aspecto semântico-lógico.
Por isso, verifica-se que a escrita de surdos, com domínio de LIBRAS, é dotada de coerência, embora nem sempre apresente certas características formais de coesão textual e de uso de morfemas gramaticais livres ou não.
Segundo Santos & Ferreira Brito: Acredita-se que o elemento fundamental para a transmissão da mensagem escrita seja a coerência e que esta é dependente das estruturas cognitivas e dos princípios pragmáticos que regem a linguagem .
É responsabilidade de o professor desenvolver maneiras de garantir a aprendizagem de algumas das infinitas possibilidades de (re)estruturação do texto, garantindo um direito inalienável do surdo: o acesso a elas.
Portanto gênero textual são práticas sociais, como, por exemplo: convites, cheques, sedex, músicas, cartas, bilhetes, quadrinhos, contos, publicidades, poemas, receitas culinárias, Chats, resenhas, bula de remédio, fichas de cadastro, e-mails telegramas, debates, crônicas, propagandas, resumos, desenho, charges, artigos de jornal e revista, cartões diversos :postal, agrade- cimento, apresentação, aniversário, outros e livros em geral etc.
Os textos a serem selecionados são aqueles que, por suas características e usos, podem favorecer a reflexão crítica, o exercício de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas, bem como a fruição estética dos usos artísticos da linguagem, ou seja, os mais vitais para a plena participação numa sociedade letrada (PCNs, 1998).
ELEMENTOS ESTRUTURAIS
• QUEM? - a(s) pessoa(s) ou personagem(ns)
• O QUÊ? - o fato, o acontecimento
• COMO? - o modo como acontece o episódio
• ONDE? - o lugar ou os lugares onde ocorre
• QUANDO? - o(s) momento(s) em que se passam os fatos
• POR QUÊ? - a causa dos acontecimentos.
A leitura e a escrita são, certamente, dois dos aspectos que mais preocupam os educadores de surdos.
A produção de textos ( escritos) é o ponto de partida e de chegada de todo o processo de ensino / aprendizagem da língua é no texto que a língua se revela em sua totalidade: quer enquanto conjunto de formas: quer enquanto discurso que remete a uma relação intersubjetiva.
O professor precisa pensar a relação de ensino como o lugar de práticas de linguagem e a partir da compreensão do funcionamento da língua, aumentar as possibilidades de uso da língua.
Compreensão de leitura Solé, 1998, A compreensão de um texto é, sobretudo, um processo de construção de significados, conhecimento prévio para abordar a leitura refere-se ao conhecimento que o leitor tem do conteúdo e o tipo de relações que estabelece entre esse conhecimento e o texto.
Depende do texto, mas também de outras questões, próprias do leitor como: os seus objetivos e a motivação com respeito à leitura, objetivos em relação a um texto podem ser muito variados.
A tarefa do professor não é corrigir o aluno, mas ser interlocutor ou mediador entre o texto e a aprendizagem que vai se concretizando nas atividades de sala de aula.
Adotando essa concepção de linguagem e de língua, coube à escola viabilizar o acesso do aluno ao universo dos textos que circulam socialmente, ensinar a produzi-los e a interpretá-los para isso destacamos três práticas:
Apesar de não contar com a modalidade oral da Língua Portuguesa, a criança surda, se inserida em atividades que envolvem a escrita, pode elaborar suas hipóteses sobre a escrita, num processo muito semelhante ao observado em crianças ouvintes, no entanto, as hipóteses serão visuais.
Para isso, é necessário que se conceba a escrita como prática social, o que implica assumir que, se expostas a atividades que envolvam a escrita, as crianças surdas serão submetidas ao funcionamento lingüístico-discursivo desta língua.
- A adoção das idéias de Lemos à educação de crianças surdas implica em: assumir que a criança surda, assim como ouvinte, ao ser exposta a textos escritos em Língua Portuguesa, vai ser submetida ao funcionamento desta língua, que as crianças surdas sejam inseridas em práticas discursivas que envolvam a escrita por meio de uma língua que lhes é acessível.
- O que caracteriza o português como segunda língua para o surdo (L.2)?
As línguas de sinais são comparáveis a qualquer língua oral em complexidade e expressividade.
- Qual é a diferença na metodologia, entre o ensino de português para estrangeiros ou como L2 para surdo?
Metodologias adequadas para a aprendizagem de uma língua nova.
- Qual a relação entre sujeito,língua e cultura?
O surdo (sujeito) é bi-cultural pois convive com a cultura surda e ouvinte.
A Língua de sinais é mais sintética . O surdo só vai aprender o português quando vê o português escrito corretamente.
BIBLIOGRAFIA
BRASILIA, Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, Regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000.
BRASIL, programa Nacional de apoio à Educação dos Surdos, ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS, caminho para a prática pedagógica, volume I e II, MEC, Brasília, 2004.
FERNANDES, Eulalia, Linguagem e Surdez, Artemed, Porto Alegre, 2003.
SÃO PAULO, Secretaria Municipal de Educação, Diretoria de Orientação Técnica Projeto Toda Força ao 1° Ano: Contemplando as especificidades dos alunos surdos / Secretaria Municipal de Educação – São Paulo: SME / DOT, 2007.
PEREIRA, Maria Cristina da Cunha Apostila: Construção de hipótese sobre a escrita por crianças surdas ; um caminho diferenciado - DERDIC-PUCSP.
_________, Secretaria de Educação, Leitura, Escrita e Surdez, CENP/CAPE, São Paulo, FDE, 2007.
QUADROS & SCHMIEDT, Ronice Müller de, Magali L.P. Idéias para Ensinar Portugues Para Alunos Surdos, Brasilia, MEC, SEESP, 2005.
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